1 de outubro de 2016

#AllHallowsRead: A Mais Maravilhosa Época do Ano (e não, não é o Natal)


Finalmente chegamos em outubro, ‘the most wonderful time of the year’ - e deve existir uma paródia dessa canção em algum lugar, porque, sério, Jack Skellington que me desculpe, mas o Halloween é um feriado ainda mais legal que o Natal (e é um fato comprovado que adoro Natal). Quem reclama e diz que tal data tem nada a ver com Brasil e é puro imperialismo americano esquece que (1) a véspera da noite de todos os santos é um feriado cristão e quer queiram, quer não, somos um país colonizado primariamente por católicos e (2) um dos mais importantes manifestos culturais do nosso país prega a antropofagia - porque não devorar e digerir um feriado que é em sua forma atual quase um segundo carnaval, uma noite que significa que todos os monstros, bruxos e fantasias estão à solta?

Embora esteja na conta de feriados cristãos, a origem do dia das bruxas é completamente pagã, claro, enraizado no Samhain, festival celta relacionado ao final da colheita. É uma época em que o véu entre este e o Outro Mundo pode ser cruzado mais facilmente - quando fadas e outras criaturas poderiam influenciar no mundo humano e os Mortos aproveitavam uma vez mais a hospitalidade de suas famílias. Não necessariamente uma época de horror, sabás de bruxa e pactos demoníacos, mas sim de reflexão e lembrança, de se purificar para enfrentar os meses escuros do inverno.


A celebração dos mortos se manteve na liturgia católica - ainda vamos a missa de finados lembrar e rezar por aqueles que já se foram - mas o resto das tradições do Samhain se tornou plot de filmes de terror, uma data para se ter medo, algo que provavelmente devemos agradecer à turma bem equilibrada e tolerante que presidiu a Idade Média. Afinal, não querendo entrar no mérito dos métodos bastante eficazes de encontrar satanistas que a Santa Inquisição tinha, o caso é que a Idade Média é provavelmente a época com mais bruxas, fantasmas, vampiros, lobisomens e outras criaturas por metro quadrado em toda a história ocidental.

É uma pena, porque o Samhain era um festival que tinha a ver com a aceitação da morte como uma realidade - e nossa sociedade moderna costuma fugir da morte como o diabo foge da cruz, mas isso é uma discussão para outro dia.


Aí que em algum ponto no meio do caminho, o Halloween foi se desvencilhando de suas conexões puramente religiosas - católicas ou pagãs - para se tornar uma grande diversão, uma desculpa para dar uma festa a fantasia e se entupir de doces (ou se embebedar, a depender de idade e preferência). Quase um carnaval fora de época, o que faz sentido, considerando que o Carnaval é outro feriado religioso de que nos apropriamos para nosso próprio divertimento.

No meu prédio ano passado as crianças se fantasiaram e passaram de apartamento em apartamento proclamando ‘gostosuras ou travessuras’? Meu pai quase fecha a porta na cara dos pobres, sem entender patavina, mas tive o prazer de colocar meu chapéu de bruxa e dar umas boas gargalhadas enquanto eles tentavam comer cupcakes usando suas dentaduras de vampiro.

Foi também o primeiro ano do All Hallow’s Read Brasil inspirado no projeto do tio Gaiman de dar livros de presente para comemorar o dia das bruxas. E eis aí uma tradição que podemos incorporar, canibalizar na tão apropriada expressão do manifesto de Oswald de Andrade. Sou a favor de qualquer desculpa para dar (e ganhar) livros de presente. E também para comer chocolate e colocar o chapéu de bruxa.


Toda essa ladainha foi para dizer que passarei outubro falando sobre bruxas, sobre livros e sobre o All Hallow’s Read. E para convidar os leitores a participar também. Incorporem essa tradição. Comemorem a mais maravilhosa época do ano. Troquem presentes. Vistam suas fantasias mais assustadoras. Que comece a festa!


A Coruja


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