4 de agosto de 2016

Para ler: Cem Gramas de Centeio

Reparem que canção mais singela:
Com cem gramas de centeio
E vinte melros de recheio
Basta fechar a panela
E esperar que se ponham a cantar
Uma torta tão bonita não faria o rei vibrar?
Enquanto ele no escritório, o dia inteiro,
Pensa só em ganhar dinheiro,
A rainha na sala sozinha
Come o pão com mel que lhe trazem da cozinha.
A criada, no quintal, estende a roupa, feliz,
Até que um passarinho safado lhe morde o nariz.
Um punhado de centeio é encontrado no bolso de um empresário envenenado após o chá com a família. A investigação que se segue vai revelando uma série de possibilidades - fraude, problemas de herança, adultério -, de tal forma que parece ser quase impossível desvendar quem é o verdadeiro assassino - ao menos até uma senhorinha do interior aparecer para se meter na investigação e nos revelar as pistas que faltavam para apontar o verdadeiro acusado.

Normalmente não simpatizo muito com Miss Marple - e não sei explicar o porquê dessa desconfiança, talvez pelo fato de ela me lembrar minhas parentes que adoram se meter na vida alheia... - mas nesse romance ela só aparece quase ao final e embora seja a pessoa que deslinda o nó do caso, o protagonismo pertence, de fato, ao detetive Neele, por quem imediatamente me afeiçoei ao vê-lo descrito como alguém dotado de um ‘excesso de imaginação’.

E é preciso bastante imaginação para dar sentido à rima que Miss Marple cantarola para explicar as mortes - do Rei, da Rainha e da Criada -, talvez exatamente porque ela esteja plantada ali para jogar a atenção para o outro lado.

Como a história se adequa à rima que dá título ao livro, parte da graça se perde na tradução, porque não temos o necessário contexto para ligarmos as peças sozinhos. Quem foi criado na Inglaterra - ou conhece suas cantigas folclóricas - talvez tivesse entendido o que realmente aconteceu antes da revelação ao final. Ou talvez não, afinal, toda vez que achamos ter descoberto o suspeito num livro da tia Agatha, descobrimos que nos deixamos levar por ideias pré-concebidas e pistas falsas.

A verdade é que o final de Cem Gramas de Centeio me atordoou, e a carta que resolve tudo deixou-me com a boca amargando. É uma resolução que não nos deixa satisfeitos, ainda que a justiça seja feita - talvez porque a última morte da história seja levada a cabo de forma tão banal pelo assassino. Era uma morte desnecessária - não para o livro, mas no grande esquema das coisas; alguém que nunca chegara realmente a começar a viver e que foi manipulada até o último momento.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Cem Gramas de Centeio
Autor: Agatha Christie
Tradução: Milton Persson
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2015

Onde Comprar

Amazon || Cultura || Saraiva


A Coruja


____________________________________

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre

Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.

Cadastre seu email e receba a newsletter do blog

powered by TinyLetter

facebook

Arquivo do blog