6 de novembro de 2014

Desafio Corujesco: Cabelo Doido/Menina Iluminada/O Dia de Chu/Os Lobos Dentro das Paredes



Uma vez que meu Desafio Corujesco desse mês é ler livros pequenos, decidi ler vários livros de cada vez – essa primeira resenha tem só Gaiman, e outra virá com os três volumes de uma coleção pela qual me apaixonei à primeira vista.

Os quatro livros de que vou falar hoje têm em comum o fato de serem livros ilustrados, cujas histórias são contadas em pequenas estrofes, como canções ou poemas. São livros infantis, e absolutamente adoráveis.
Quem se aproximar
Dessa louca cabeleira
Ouvirá música,
Rugidos e muitas brincadeiras.

Mas cuidado, devo avisar:
Se você chegar muito perto,
Corre o risco de não voltar.
Cabelo Doido é narrado em primeira pessoa pelo dono da dita cabeleira. A história começa com ele apresentando a si e a Bonnie, uma jovem que se encanta pelo cabelo dele.

O cabelo do narrador é longo, louco e cheio de histórias: por entre suas madeixas vivem ursos e piratas, há passeios de balões e exploradores, música e outras farras.

As palavras combinam com os desenhos de Dave McKean, com quem Gaiman já trabalhou em Sandman e tudo parece ter saído de um sonho, imagens e letras se embaralhando em meio ao ritmo impresso por eles.
Deixem que conte histórias
E dance na chuva,
Pule de ponta-cabeça,
Leve como um lençol,

Suas alegrias
Devem ser tão sublimes
Quanto suas tristezas,
Profundas.

Que ela cresça como uma planta ao sol.
Menina Iluminada é meu segundo volume favorito desses títulos ilustrados do Gaiman, atrás apenas de Instruções (de que não falarei hoje porque já escrevi uma resenha só para ele). As palavras de Gaiman aqui, “uma prece para uma menina iluminada”, têm por companhia perfeita o trabalho de Charles Vess (de que me lembro sempre por causa de Stardust) e o resultado final é simplesmente adorável.

Na verdade, todo ele é um livro lindo por demais. Eu o ganhei do Dé, no natal do ano passado e recomendo como um excelente presente para pessoas sensíveis em geral e em especial para mães que estejam esperando ou tiveram recentemente meninas.
Chu é um filhote de panda fofinho e muito... alérgico. O problema é que quando Chu espirra, e isso ocorre com alguma frequência, coisas ruins podem acontecer. Seus pais, coitados, sabem disso e têm que pensar duas vezes antes de levar Chu para passear por aí. Será que Chu vai espirrar hoje?
O Dia de Chu foi lançado no ano passado e não existem outras palavras para defini-lo além de ‘ridiculamente fofo e adorável’ – incluindo aí as ilustrações Adam Rex. Inspirado numa viagem que Gaiman fez à China, quando teve oportunidade de segurar um panda no colo, o livro acompanha um dia na vida de Chu, um bebê panda extremamente alérgico – cujos espirros têm o potencial para criar uma grande confusão.

Esse é provavelmente o livro mais inocentemente infantil do Gaiman – Coraline e O Livro do Cemitério também são indicados para os pequenos, mas, não esquecendo que a indicação de faixa etária deles é um pouco maior que O Dia de Chu, são histórias mais sombrias.
Lucy escutou ruídos.
Os ruídos estavam vindo
De dentro das paredes.

Eram ruídos apressados
E ruídos alvoroçados.
Eram ruídos farfalhantes
E ruídos crepitantes.

Eram ruídos
Furtivos,
Rastejantes
E amarrotados.
Para completar nosso pacote de livros pequenos, fofinhos e ilustrados do Gaiman (por algum motivo, acabo de me lembrar da Felícia de Looney Tunes...), vamos para Os Lobos Dentro das Paredes, em que mais uma vez Gaiman fez parceria com David McKean.

A arte do McKean sempre me impressionou e mais uma vez aqui ele colabora com Gaiman para criar um universo que parece ser parte sonho, parte pesadelo, para contar uma história que tem tudo a ver com nossos medos infantis – os barulhos e estalos que as casas muitas vezes fazem à noite e que às vezes nos mantêm acordados, entre mil e uma suposições do que poderiam eles ser.

Os Lobos Dentro das Paredes está mais na linha de Coraline, mas sua linguagem e ritmo o indicam para crianças mais novas. É uma história de horror (‘ se os lobos saírem da parede, está tudo acabado’), e também uma história de humor, de aprender a lidar com os medos e de ver o absurdo nesses medos.

Todos os quatro volumes de que falei aqui são livros que se beneficiam de uma leitura em voz alta, perfeitos para serem interpretados em companhia, para contar histórias e tecer sonhos no ar. Para ler na infância e reler ao longo de toda a vida.


A Coruja


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