19 de setembro de 2013

Projeto Baudelaire: O Escorregador de Gelo

Caro Leitor,

Assim como apertos de mão, cães e cenouras cruas, muitas coisas são melhores quando não são escorregadias. Neste volume, receio que Violet, Klaus e Sunny Baudelaire enfrentem um amontoado de escorregadelas durante sua lamentável jornada pelas Montanhas de Mão-Morta.

Seria melhor não mencionar os desagradabilíssimos detalhes da história — em especial uma mensagem secreta, um tobogã, uma armadilha, um enxame de mosquitos da neve, um vilão maquinador de planos maléficos, um bando de jovens organizados e o sobrevivente de um terrível incêndio.

Para meu grande azar, dediquei minha vida a registrar a triste história dos Baudelaire. Mas não há razão para você também se dedicar a uma atividade tão ignóbil; seria melhor deixar este livro escorregar de suas mãos para dentro de uma lixeira ou de um poço bem fundo.

Respeitosamente,
Lemony Snicket
Embora esse seja o décimo volume da série, devo dizer que foi por causa dele que comecei a ler Desventuras em Série: a Ana, uma das minhas boas amigas, irmã siamesa nascida de outra mãe, que tem gostos literários muito parecidos com os meus, fez uma baita propaganda citando em especial esse volume - os termos que ela usou à época foram mais ou menos ‘o não beijo mais delicado e mais fofo e poético que já li na vida’.

Explicar o que cargas d’água é um não-beijo acabará entregando uma cena importante desse volume, mas um pouco de contexto para que vocês compreendam a significância do comentário: nós estávamos discutindo alguns dos arcos mais importantes do Expresso Hogwarts em termos de desenvolvimento final da história. Eu estava me enrolando fantasticamente com o romance de Isaac e Mina (meus personagens no Expresso) e com a idéia de resistências dentro de resistências em tempos de guerra, teorias da conspiração e outras milhares de variantes.

Já disse outras vezes que faço muita pesquisa quando estou escrevendo, busco inspiração em todo canto. No caso, a resistência francesa e Desventuras em Série formaram a base da minha pesquisa e inspiração para escrever, com o bônus de me desenterrarem de uma fase de bloqueio criativo desesperadora.

Enfim... Tenho de dizer que O Escorregador de Gelo é meu livro favorito da série, por causa da história do ‘não beijo’ – em termos de romance, o desventurado autor dessas desventuras conseguiu com uma única cena o que muitos outros não conseguem com um livro inteiro – e porque ele é um livro que tem mais respostas que mistérios, embora ainda haja mais mistérios do que somos capazes de desvendar sozinhos.

O início desse décimo volume é exatamente o ponto final de O Espetáculo Carnívoro: Olaf conseguiu separar os irmãos Baudelaire, levando Sunny consigo enquanto Violet e Klaus despencam para a morte certa. Após lhe causar taquicardia e talvez até uma parada cardíaca ou duas, Snicket nos leva num redemoinhos de cores e sensações até cavernas e montanhas geladas, em descrições precisas e incrivelmente vívidas.

Cuidado para não deixar faltar oxigênio enquanto descobre a base de operações incendiada da C.S.C., ou vilões tão vilanescos que até Olaf treme diante deles ou ainda se encontra no meio de conflitos entre duas facções de uma mesma organização secreta piromaníaca.

E ainda há mais três volumes a vir por aí...


A Coruja


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Um comentário:

  1. Adoro esta "contra-propaganda" que Snicket faz em seus livros. dá mais vontade de ler.

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