2 de outubro de 2012

Desafio Literário 2012: Outubro - Graphic Novel || Daytripper

Brás de Oliva Domingos tem só mais um dia de vida. Pode ser o dia em que ele conhece seu grande amor. Pode ser durante sua grande viagem da adolescência. Pode ser o dia em que ele começou a entender a família. Pode ser quando ele decidiu ajudar seu melhor amigo. Pode ser na velhice.

Os grandes momentos da vida, a família de onde você vem e a família que você constrói, ser filho e ser pai, ter amor e ser amado. No trabalho de maior sucesso dos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, toda uma existência é contada em dez capítulos – dez dias – sob a sombra constante (e mágica) da morte.
Não me lembro agora exatamente onde ouvi pela primeira vez falar de Daytripper - acho que foi a Tayla ou a Angélica que fizeram algum comentário e o nome terminou por ficar em minha cabeça. E aí, quando estive no SANA em Fortaleza, no começo do ano, e dei de cara com ele em promoção, meti-o debaixo do braço com outros dois volumes sem pensar muito no que estava fazendo.

Foi uma decisão precipitada, especialmente se considerar que eu tinha virado o ano fazendo a promessa de que não compraria mais livros até terminar o que tinha à espera nas minhas estantes. Aliás, foram esses volumes que comprei na viagem que me fizeram primeiro quebrar a promessa e me justifiquei dizendo com meus botões que estava viajando e por isso podia comprar livros.

É, eu sei, é uma desculpa ridícula. Por que raios e cargas d’água eu fiquei tentando me justificar para mim mesma, é algo que não posso explicar. E ao longo de todo o ano, continuei não cumprindo a promessa...

Mas tudo bem, porque quando afinal me sentei para ler Daytripper, eu não me arrependi de minha impulsividade. Muito pelo contrário: descobri que tinha uma pequena obra-prima em mãos.

Às primeiras páginas do livro, você talvez se perca entre as idas e vindas, sem entender o que raios está acontecendo. Afinal, não se trata de uma narrativa linear, não existe uma encadeação lógica de fatos (e confesso que quando terminei o segundo capítulo, fiquei me perguntando se estava lendo uma ficção científica com algum tipo de plot sobre viagens no tempo ou dimensões paralelas. Foi só quando terminei a terceira parte que me toquei do que estava acontecendo...).

Cada capítulo de Daytripper é uma possibilidade, um caminho diferente que teria percorrido Brás – nosso protagonista – a depender das escolhas que fizesse. Escritor que começa num jornal como redator de mortuários, em cada parte do livro nós temos a visão de como seria a vida de Brás em tais e tais situações, com as conseqüências em resposta a cada um de seus atos. Cada história – porque os episódios da vida de Brás que nos são apresentados são histórias e vidas quase que completamente independentes – começa com um ponto-chave, decisões pequenas, que vemos então serem capazes de determinar uma inteira existência.

Vivemos com Brás múltiplas encarnações. Somos ora crianças, ora anciãos, lidamos com os anseios sobre qual carreira seguir, o temor de viver à sombra do pai, o encanto e a certeza de um futuro ao cruzar os olhos com uma estranha na faixa de pedestres.

A vida é algo tênue – somos lembrados a cada virar de página – que num único instante pode mudar irremediavelmente e você deve estar consciente que toda e qualquer escolha tem suas conseqüências. Toda ação tem uma reação, por menor que seja. E não há realmente tempo para arrependimentos e somos logo impelidos para novas outras tantas escolhas. Nem sempre é belo, não, mas é necessário.

É a vida, o cotidiano, o hábito. Nada menos que isso. E por isso mesmo, tão importante, tão intrigante e inspirador. “Essa é a história da minha vida. Respire fundo, abra os olhos e feche o livro”.

Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Daytripper
Autor: Fábio Moon e Gabriel Bá
Tradutor: Érico Assis
Editora: Panini
Ano: 2011
Número de páginas: 256


A Coruja


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3 comentários:

  1. Gostei da escolha. Não conhecia a obra. Possui uma carga reflexiva aos moldes do que aprecio.

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  2. Confesso que Daytripper não me pegou. Comprei-o em uma edição do Festival Internacional de Quadrinhos de BH. Acho que esperei por algo a mais. Não sei. Talvez não tivesse maturidade, ou talvez tenha um pouco de birra dos gêmeos, talvez tenha inveja. No fim, fiz a leitura e pareceu que o livro não me atravessou. Foi um quase. Acho a premissa magnífica, mas sua finalização me pareceu pouco convincente.

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    1. Faz tanto tempo que li que não sei exatamente dizer onde nossas visões se dividiram. Mas acho que algumas leituras têm dessas coisas: elas te encontram no momento certo (ou errado) e isso faz toda a diferença na forma como você as encara.

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