13 de março de 2012

Para ler: O Clube dos Suicidas



"Mal imaginam quão afortunado foi para os senhores o momento em que aceitaram minhas tortinhas de creme! Sou apenas uma unidade, mas uma unidade dentro de um exército. Conheço a porta da Morte; sou um dos íntimos, e posso introduzi-los sem cerimônia e sem escândalos."

Robert Louis Stevenson – O Clube dos Suicidas
Stevenson é um autor curioso – é difícil até decidir se mais interessante é sua obra ou sua própria história. Filho de engenheiro, doente desde criança, Stevenson pareceu primeiro condenado a uma morte precoce. Tendo sobrevivido à idade adulta (embora ainda doente), o pai quis que fosse engenheiro. Ele se formou em Direito, mas nunca atuou na área. Em vez disso, começou a escrever. Se apaixonou por uma mulher mais velha, que já tinha, inclusive, filhos, e – escândalo dos escândalos – casou-se com ela.


Perambulou então pelo mundo, à procura de um clima propício à sua saúde. Escreveu, entre outros livros clássicos, A Ilha do Tesouro e O Misterioso Caso do Dr. Jekill e Mr. Hyde (que foi apelidado de O Médico e o Monstro) e acabou seus dias numa ilha do pacífico, venerado pelos nativos como um deus.

Tanto A Ilha do tesouro quanto O Médico e o Monstro fizeram parte de minha infância – e eu os continuo relendo hoje, com o mesmo prazer de então.Assim que, quando me deparei com esse título curioso na Bienal ano passado, não precisei de muito para colocá-lo na crescente pilha que já carregava comigo.

O Clube dos Suicidas é composto de três contos curtos que nos apresentam ao príncipe herdeiro do trono da Boêmia, Florizel e seu fiel súdito e companheiro, Coronel Geraldine - os dois já inauguram a tendência das duplas de romances policiais, como Sherlock Holmes e Doutor Watson e Hercule Poirot e o capitão Hastings.

Bem, tudo começa quando o príncipe Florizel, em virtude de se sentir entediado, decide dar um de seus costumeiros passeios por Londres – costumeiros porque não era a primeira vez que ele e o Coronel se disfarçavam para sair e observar a fauna e flora da ‘grande capital do mundo civilizado’ – esses são os tempos em que o sol nunca se punha no Império Britânico.

Ele acaba por encontrar nessa saída um jovem de comportamento estranho, que, interpelado, revela estar à espera da morte. Mas não qualquer tipo de morte, nada singelo, como alguma doença incurável. Não... nosso jovem anseia por morrer, mas não tem coragem de dar o passo fatal sozinho, de forma que se associou ao Clube dos Suicidas.

E o que é esse Clube? – se perguntam os dois nobres que, para descobri-lo, juntam-se ao desditoso suicida e acabam por se associarem também (por nada menos que pura curiosidade).

Ora, o Clube dos Suicidas é exatamente como qualquer outro clube de cavalheiros em Londres: um lugar onde pessoas com interesses e gostos comuns se reúne para conversar (ou ficar em silêncio, se você for um associado do Diógenes Clube, fundado por Mycroft Holmes), comer, beber e jogar uma inofensiva partida de cartas em que sempre são sorteadas duas pessoas: um sortudo suicida... e seu assassino.

Ligados ao clube por juramento, Florizel e Geraldine não podem denunciar o presidente do Clube dos Suicidas – que é a grande mente criminosa por trás de tudo – às autoridades competentes. Então, uma vez que não pode quebrar o segredo – afinal, deu sua palavra de honra e a honra de um príncipe é mais importante que coisas estelionato e assassinatos – Florizel decide que deve fazer justiça com as próprias mãos.

O livro é curto – curto demais para meu gosto. O mote da história é engenhoso e rendia fácil um romance. Sendo apenas uma novela, Stevenson deixa muito por desenvolver – e me ressinto um pouco do fato de nunca nos ser explicado porque cargas d´água o presidente criou o Clube dos Suicidas: ele era um psicopata que gostava de ver o circo pegando fogo? Ele ganhava alguma coisa com as mortes de seus associados? Qual era o interesse dele com aquilo tudo?

Se tais perguntas não são respondidas, ainda assim, O Clube dos Suicidas é uma boa leitura. A narrativa é ágil, surpreendente, curiosa. Um livro digno da figura fabulosa de Robert Louis Stevenson.



A Coruja


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