1 de agosto de 2011

Para ler: Austenland



A música começara, os casais iniciando os movimentos, mas Mr. Nobley fez uma pausa para segurar o braço de Jane e sussurrar, “Jane Erstwhile, se eu nunca mais tivesse de falar com outro ser humano além de você, eu morreria um homem feliz. Gostaria que essas pessoas, a música, a comida e todas as bobagens desaparecessem e nos deixassem sozinhos. Eu nunca canso de observá-la ou escutá-la.” Ele respirou. “Pronto. Este cumprimento foi de propósito. Eu juro que nunca irei cumprimentá-la à toa novamente”.

A boca de Jane estava seca. Tudo o que ela conseguiu dizer em resposta foi: “Mas... mas certamente você não considera banir toda a comida.”

Ele considerou aquilo para então concordar com a cabeça. “Certo. A comida fica. Faremos um piquenique.”

Shannon Hale – Austenland

Confesso que não estava esperando muita coisa desse livro – na verdade, ele só passou à frente na minha lista de prioridades porque vi a notícia de que seria lançado um filme ano que vem inspirado nele, e isso me deixou curiosa porque, uma vez que Stephanie Meyer é a produtora do filme, fiquei pensando que o Mr. Darcy dessa história talvez brilhasse no escuro.

Ainda assim, a forma como comecei esse volume é interessante... eu tinha começado Assombrações do Recife Velho de Gilberto Freyre e, embora o livro fosse maravilhoso, chegou um certo ponto em que me toquei de que todo mundo tinha ido dormir, uma tempestade furiosa lá fora estava fazendo janelas e portas balançarem criando barulhos estranhos e, de uma forma geral, a qualquer minuto apareceria uma alma penada como as que assombravam os casarões que Freyre descrevia.

Destarte, antes que minha imaginação hiperativa produzisse algum fantasma ou eu entrasse num surto histérico ou coisa parecida, larguei Freyre e peguei o próximo livro da pilha junto à minha cabeceira. Minha idéia era ler começar a ler alguma coisa açucarada e bobinha que me relaxasse o suficiente para que o Boca de Ouro não aparecesse em meus sonhos.

Devia ser umas dez da noite quando comecei o livro... e a cada página virada eu dizia ‘só mais uma depois vou dormir’ ou ‘ainda é cedo, mais um capítulo’ e quando vi eram quatro da manhã: em duas horas eu tinha de estar pronta para sair para o escritório, mas eu não estava nem aí, sorrindo com um sorriso besta de quem foi para o sétimo céu e voltou.

Pois é... Austenland é o tipo de livro que faz você perder completamente a noção da hora e não larga até terminar – e quando terminar quer começar tudo de novo enquanto arruma as malas para passar uma temporada no bendito resort também.

Ok, então... Jane Hayes tem um vício: Mr. Darcy. Mas não qualquer Mr. Darcy e sim o interpretado por Colin Firth na série de 95. Toda vez que Lizzie e Darcy trocam aquele olhar por cima do piano, depois que ela socorre Georgiana, Jane derrete-se em seu sofá.

Essa obsessão, contudo, chegou a um ponto que Jane continuamente se sabota em seus relacionamentos – os homens que encontra em sua vida real estão aquém de sua própria intensidade romântica e têm o grande, enorme defeito de não serem Mr. Darcy.

Jane reconhece isso e está disposta a mudar e deixar de lado todos os seus sonhos austenianos para trás e embarcar na ‘realidade’, quando recebe um inesperado legado no testamento da tia-avó: uma viagem de três semanas para um resort inglês no qual os hóspedes mergulham completamente num mundo criado pelos livros de Austen.

Não estou brincando, é uma imersão total MESMO.

Agora, antes que vocês comecem a fazer fila e perguntar onde providenciar as reservas, tentem se lembrar das inúmeras restrições às mulheres da época – e que Jane percebe muito bem ao longo de sua estadia em Austenland.

Você começa tendo de entregar todos os aparatos tecnológicos e roupas modernas que possui, incluindo aí as roupas de baixo. É obrigado a aprender um tanto de etiqueta da época e depois despachado para o seio de uma família de atores, que dali por diante representará sua própria família.

Assim, Jane vai passar três semanas com os tios ingleses que estão hospedando Miss Charming, Coronel Andrews e Mr. Nobley. Para completar, temos um jardineiro bonitão chamado Theodore (nome verdadeiro: Martin) e uma penca de situações farsescas emulando cenas de todos romances de Austen.

Como não podia deixar de ser, no momento em que Jane jura que vai desistir dos homens em geral – e daqueles que usam casaca, em particular – ela passa a ser disputada pelo jardineiro e por Mr. Nobley, que faz as vezes de Mr. Darcy à perfeição.

Mas onde termina fantasia e começa a realidade? Como você pode acreditar em sentimentos surgidos enquanto estava atuando? E, afinal de contas, você estava realmente atuando o tempo inteiro?

Austenland é uma história leve, gostosa de ler, que em nenhum momento subestima a capacidade de seu leitor. Surpreendeu-me da melhor forma possível. Considerando que vai ter filme, eu não duvidaria da possibilidade de vermos esse título sair em português por aqui. Seria uma excelente pedida.



A Coruja


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5 comentários:

  1. Tipo que na hora que eu li o nome do livro, pensei: "QUero ler". Afinal, tudo que tem Austen no meio, eu quero ler.O problema é que eu quase NUNCA leio! Ae eu comecei a ler e morri de rir com "Mr. Darcy dessa história talvez brilhasse no escuro"... cara, foi ótimo isso.
    Maas falando sério, eu quero esse livro. Eu adorei sua resenha, adorei a história, adorei tudo. E o detalhe principal: Hellowwwww, alguém ai lembra que eu AMO o Colin Firth?" Esse é meu livro, preciso ler ele já!!!
    Amei amei amei!

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  2. nunca tinha ouvido falar nesse livro, mas confesso que depois de ler sua resenha, vou sair correndo daqui pra primeira livraria comprar o meu.....rsrsrsr
    Adorei e estou anciosa pra ler.
    Ah!.....tb amo corujas!!!!
    Beijos

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  3. Que blog danado esse aqui...a gente se perde hooooras e quando se dá conta...já perdeu a hora!!! hehe
    Bem amei a resenha e estou totalmente inclinada a ler esse livro!!E que venha o filme!!
    Beijos Lu Darce!!E mais uma vez Parabéns pelo blog!!

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  4. Respostas
    1. Não, Monica, infelizmente esse livro ainda não foi traduzido aqui no Brasil... talvez quando saia o filme ano que vem, decidam trazê-lo...

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